Pequenas e grandes empresas reconhecem cada vez mais a importância do design acessível para os produtos que fornecem. Mais recentemente, marcas de cosméticos e beleza têm montado equipes de especialistas e trabalhado para colocar a inclusão na mesa dos novos projetos.
A L'Oréal, dona da Lancôme, começou o ano com o lançamento de um aplicador de batom desenvolvido para pessoas com limitações de mobilidade nos braços e nas mãos. A apresentação foi feita na Consumer Electronics Show, maior feira de tecnologia dos Estados Unidos. Batizado de Hapta, o dispositivo foi criado em parceria com a startup Liftware, especializada em talheres para pessoas que sofrem com tremores.
O aplicador usa tecnologia de vibração para estabilizar a mão e dar maior precisão na hora de passar o batom com confiança e independência, sem que a cor borre.
De acordo com a L'Oréal, aproximadamente 50 milhões de pessoas em todo o mundo vivem com alguma deficiência motora e têm dificuldades para realizar atividades diárias, incluindo maquiagem.
O protótipo ainda vai passar por testes nos próximos meses, mas a expectativa é que o aplicador comece a ser vendido nos Estados Unidos até o fim deste ano, e em 2024 no resto do mundo. A estimativa é que vá custar entre R$ 770 e R$ 1.000. No futuro, ele deverá ser adaptado para ajudar com outros itens de maquiagem, como passar sombras ou colocar cílios postiços.
Quando se fala em beleza inclusiva, a cantora americana Selena Gomez aparece como uma das pioneiras da indústria cosmética. Ela lançou a marca de maquiagem Rare Beauty, já disponível no mercado brasileiro desde o ano passado.
A artista sofre de lúpus, doença inflamatória e autoimune que pode afetar órgãos e articulações. Em momentos de crise, a cantora sofre com fraqueza muscular nas mãos. As embalagens da marca foram pensadas para serem mais fáceis de abrir. As tampas em formato de bolinhas e o fechamento por meio de ímã da paleta de sombras dispensam esforço físico na hora de usar os produtos.
Contudo, para muitas pessoas com dificuldades motoras, o desafio pode ser ainda maior. Quando se fala em maquiagem inclusiva, os pincéis também são itens essenciais. Marcas novatas investiram nessa necessidade e começaram a criar aplicadores específicos para esse público.
Nos Estados Unidos, a famosa maquiadora profissional Terri Bryant decidiu entrar nesse mercado depois que ela própria foi diagnosticada com Parkinson e não conseguia mais fazer um delineado preciso.
Usou a dificuldade como motivação para empreender e desenvolveu pincéis e delineadores adaptados para pessoas que vivenciam, assim como ela, os tremores nas mãos. A marca ganhou o nome de Guide Cosmetics e já conta com uma linha de aplicadores de design próprio que oferecem estabilidade e confiança por meio de suportes, que ficam entre os dedos.
A atriz americana Selma Blair, diagnosticada com esclerose múltipla em 2018, se juntou à empresa como diretora criativa e testadora oficial dos produtos, gerando impacto direto no público-alvo.
Ainda no ramo dos pincéis inclusivos, a empresa britânica Kohl Kreatives também se dedica à fabricação de aplicadores adaptados. O design considera fatores relevantes para clientes com dificuldades motoras. O formato do cabo é mais grosso do que o normal e mais fácil de segurar. As cerdas dos pincéis também vêm em formatos de triângulos que tornam a aplicação da maquiagem mais prática, especialmente na região dos olhos.
Inovação para pessoas com deficiências visuais
O mercado de beleza também trouxe novidades tecnológicas para pessoas com deficiências visuais. Na Europa, a Estée Lauder Companies lançou uma ferramenta que promete auxiliar esse público. O aplicativo pioneiro da empresa usa inteligência artificial para dar instrução de voz no momento em que o usuário faz a maquiagem. Na prática, o software analisa o rosto e diz por meio de áudios se a sombra, base ou batom estão sendo aplicados corretamente ou se é preciso um retoque em alguma parte específica.
Por enquanto, o Voice-Enabled Makeup Assistant (VMA) só está disponível na Apple Store do Reino Unido. O país tem cerca de dois milhões de pessoas que enfrentam a perda de visão, segundo a Estée Lauder.
A companhia diz que espera lançar o aplicativo na Google Play Store em um ano e em breve em outros países.
Aqui no Brasil as iniciativas ainda são tímidas. O Grupo Boticário trabalha no desenvolvimento de um batom tecnológico que também usa a inteligência artificial para identificar os contornos dos lábios e evitar borrões. O produto está em pesquisa em parceria com o centro de inovação Cesar. Ainda não há data de lançamento prevista.
Todas essas ações foram pensadas para consumidores que demandam e querem atendimento personalizado. A entrega bem-sucedida de produtos e serviços inclusivos resultam em mais do que lucro para essas empresas, têm um impacto direto na conquista ou na retomada da autoestima dos clientes.
Afinal, pequenos gestos de autocuidado, como passar um batom com confiança e independência, podem transformar o dia.
Fonte: Época Negócios, Glamour, Fashion Network e New York Post